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segunda, 06 de maio de 2024
Economia | quinta, 29 de junho de 2023 - 12:04

Governo e Banco Central se reúnem para discutir meta de inflação de olho na Selic

Conselho Monetário Nacional pode alterar meta inflacionária para abrir espaço para queda de juros
Centrais sindicais fazem ato por redução da taxa básica de juros - Reprodução/SinproesemmaCentrais sindicais fazem ato por redução da taxa básica de juros - Reprodução/Sinproesemma

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), se reúnem nesta quinta-feira (29) com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto – que vem sendo pressionado por governo, trabalhadores e empresários pela redução da taxa básica de juros da economia nacional, a Selic.

A reunião entre eles não foi convocada para tratar desse assunto. Dela, porém, podem sair decisões que vão impactar no rumo da taxa.

:: Banco Central ignora pressão e mantém Selic em 13,75% ao ano ::

Haddad, Tebet e Campos Neto formam o chamado Conselho Monetário Nacional (CMN). O órgão, entre outras coisas, fixa a meta de inflação para a economia nacional.

Para o final de 2023, por exemplo, essa meta é de 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, de 1,75% a 4,75%.

Com base nessa meta, é que o BC –que hoje é um órgão independente do governo– fixa os níveis da Selic que ele considera adequados visando à meta. Atualmente, essa taxa é de 13,75% ao ano. Em tese, segue neste patamar para desaquecer a economia e trazer a inflação, que está em cerca de 4%, para mais perto dos 3,25%.

Acontece que o CMN pode mudar essa meta de inflação, colocando-a em 4% ao final de 2023 --exemplo ilustrativo. Neste caso, já não faria mais sentido a Selic se manter em 13,75% pois a inflação já estaria no centro da meta. Ou seja, o caminho para o corte da Selic estaria mais claro, abrindo espaço para investimentos e a retomada do crescimento.

:: Presidente do BC diz ser contra mudar meta de inflação ::

A pauta da reunião do CMN não foi oficialmente divulgada. Nos bastidores, é discutida a possibilidade de mudança na meta de inflação, a qual já foi defendida publicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Para economistas ouvidos pelo Brasil de Fato, uma eventual alteração seria positiva justamente para abrir espaço para uma queda mais rápida da Selic e pois ela favoreceria o crescimento. Uma mudança brusca está descartada já que ela poderia gerar desconfiança do mercado financeiro quanto ao compromisso do governo com o controle da inflação.

Em fevereiro, Campos Neto disse ser contra a mudança. "Se a gente fizer uma mudança agora, sem um ambiente de tranquilidade e um ambiente onde a gente está atingindo a meta com facilidade, o que vai acontecer é que você vai ter um efeito contrário ao desejado", previu o economista, em sua participação no programa Roda Viva, da TV Cultura.

 

Drible no BC

O economista Mauricio Weiss, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é favorável à mudança na meta. Primeiro, porque pesquisas indicam que, em países em desenvolvimento como o Brasil, a taxa de inflação ideal é de cerca de 4%. Segundo, porque a mudança na meta seria uma forma de “forçar” o BC a baixar a Selic mesmo contra a vontade dele.

"Eu entendo que é, sim, a hora de mudar a meta especialmente porque o BC de Campos Neto não está reduzindo a Selic", disse Weiss.

Pedro Faria, economista e pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também vê a mudança como benéfica também diante da resistência do BC em baixar a Selic.

"Como o BC já ficou sem argumento, está na hora de se apelar para essa outra arma [mudar a meta de inflação]", afirmou Weiss.

André Roncaglia, economista e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), disse que não acredita em mudanças na meta neste ano nem para 2024. Para ele, o governo deve agir para, ao menos, aumentar o intervalo de tolerância de 1,5 ponto para 2 pontos. Isso, na prática, abriria espaço para uma inflação um pouco mais alta, uma Selic mais baixa e para diversos efeitos disso sobre a economia.

"Se a Selic começar a cair, teríamos cerca de R$ 50 bilhões ou R$ 60 bilhões de corte no gasto com juros em 12 meses", afirmou. "Teríamos mais investimentos, mais recursos para consumo, teríamos um câmbio melhor. Tudo isso daria um impulso à economia."

:: Luiza Trajano cobra Campos Neto por juros altos ::

O economista Miguel de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), acredita que o CMN mude a forma como a meta é perseguida. Deixaria de buscá-la ao final de todo ano, mas passaria a persegui-la dentro de um prazo mais longo.

Isso também daria espaço para juros mais baixos no curto prazo. "Se o BC queria tivesse prazo maior para entregar a inflação dentro da meta, ele não precisaria trabalhar com juros tão altos", afirmou Oliveira. "O BC poderia começar a reduzir o juro."

Edição: Thalita Pires



Fonte: Vinicius Konchinski Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
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