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sexta, 6 de setembro de 2013 - 10:50

De volta das cinzas, discos de vinil ocupam espaço pelas casas

Depois de 20 ou 30 minutos de música, um ruído seco anuncia o fim e é a hora de trocar o lado do disco para escutar as outras faixas. A geração que cresceu escutando CDs ou mp3s pode nunca ter vivido essa situação, mas aos poucos ela volta a fazer parte do cotidiano de quem não vive sem música. Os discos de vinil ou LPs estão voltando e, pelo visto, é para ficar.

Na gringa, o lançamento de álbuns em vinil já se consolidou. O duo francês Daft Punk vendeu mais de 19 mil cópias de “Random access memories”, seu último trabalho, no formato. Isso representa 6% do total de 330 mil cópias vendidas até o momento. Dificilmente um grupo de música alternativa deixa de lançar, atualmente, uma versão em vinil.

Em Campo Grande, a tendência é seguida. Embora ainda não existam lojas físicas especializadas na cidade, sebos e livrarias garantem espaço cada vez maior aos “bolachões”.

A internet também ajudou os aficcionados a conseguirem lançamentos ou relíquias a preços mais camaradas.

“Cara, olha isso. Três discos do Arcade Fire por R$ 147, com o frete”, exclamou André Vilela, o Samambaia, 27, pelo GTalk (programa de conversas on-line do Google). Arquiteto e músico, sempre fã de música, André ganhou um toca-discos como presente de Dia dos Namorados e esse foi o incentivo que faltava para que os LPs voltassem a fazer parte do cotidiano.

“Voltassem” porque o interesse já existia, principalmente por causa do pai. “Indo a sebos, principalmente em uma época que os CDs já tinham perdido o sentido, os discos mantiveram seu apelo estético ou romântico”, afirma. Depois do toca-discos, Samambaia começou a comprar pela internet, com amigos da cidade ou em feiras de antiguidades.

“Minha coleção ainda é pequena. Comecei com uma lista do que eu ‘precisava’ ter, álbuns que me formaram musicalmente. Mas acabei percebendo que custaria muito caro, então, preferi equilibrar e aproveitar as oportunidades”, explica. Entre as relíquias, André coloca o primeiro disco da dupla americana Suicide e um single, em 7”, dos britânicos do The Troggs.

Outra colecionadora que passou a buscar discos com mais afinco há dois anos, Júlia Miranda, 26, afirma: “Com mais bandas lançando álbuns em vinil, ficou mais fácil. Eu gosto de consumir o trabalho físico da banda. Com o vinil, que tem um formato maior, a arte das capas fica mais incrível. Isso sem falar no som!”

O melhor canal
Pietro Luigi, 37, lembra que no início da década de 1990, quando o CD havia se consolidado como novo meio para escutar música, muitos conhecidos passaram a se livrar dos discos de vinil. Em vez de seguir a moda, ele passou a aproveitar os baixos preços para conseguir os discos de bandas favoritas.

Mais de 20 anos depois, nem os maiores “futurólogos” imaginariam que os discos estariam de volta. “Fora do Brasil, o vinil manteve seu nicho. Aqui, ele desapareceu. Ou as pessoas compravam em sebo ou importavam. Nos dias de hoje, a situação é um pouco diferente”, explica Pietro. Fundada em 1999, a Polysom se tornou a única gravadora de discos de vinil da América Latina.

“O vinil voltou e voltou com força. Até músicos mais comerciais estão lançando, como Pitty, Ana Carolina, entre outros. Ao mesmo tempo, existe uma cena alternativa e independente que aposta nesse formato para marcar presença”, afirma Pietro, que atualmente é vendedor na Livraria Leitura, e criou uma loja virtual, a Subcultura.

Com ela, além de vender discos, Pietro também passou a patrocinar algumas prensagens, como é o caso de “Pré-ambulatório”, do carioca Lê Almeida. “Rolou uma vaquinha para a prensagem, que foi feita em Portugal. Esse foi meu primeiro passo em direção ao objetivo de criar um selo”, conta.

Assim como Pietro, o servidor público Marcos Machado, 35, também decidiu fazer do amor pelo vinil uma forma de ganhar dinheiro. “Eu decidi vender porque tinha muitos discos. Precisava diminuir minha coleção e resolvi passar para frente o que eu escutava menos”, lembra. Atualmente, ele trabalho com usados de alta qualidade.

“O que eu ganho, eu gasto com discos. O dinheiro não sai desse universo”, explica. Segundo Marcos, as primeiras compras de vinil aconteceram há 20 anos. “O CD estava começando e a maior parte dos lançamentos ainda era feita em vinil. Depois, os discos foram perdendo espaço e os preços caíram”, explica.

Sobre a popularidade dos discos entre pessoas que nasceram em uma época na qual os CDs já eram absoletos, Marcos arrisca uma explicação. “O interesse por coisas antigas é bem presente entre os jovens. Tudo o que é vintage acaba ganhando esse público”.
Para Marcos, o crescimento no mercado de discos de vinil sofreu um crescimento de mais de 500%.

Todos os entrevistados concordaram que a relação que se cria entre música e ouvinte, com o vinil, é muito mais poderosa. “O som tem esse peso que vem do analógico, da agulha fazendo atrito com os sulcos do vinil. Tem quase que uma hipnose por trás. Não é mais aquela coisa descartável do mp3”, brinca Pietro. Independentemente dos motivos, a verdade é que o vinil voltou e voltou para ficar.
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