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segunda, 24 de setembro de 2018 - 09:55

Culto discute política para mudar fama de evangélico como massa de manobra

Sem citar candidatos, igreja convocou os fiéis para um conversa dizendo que é omissão se colocar como "apolítico"

Na noite de sábado (22), chamou atenção um convite nas redes sociais da Igreja Batista, bem escrito e articulado, puxando a orelha de fieis que saem por aí dizendo não gostar de política. Como a prática de ceder espaço aos políticos em época de eleições e transformar o púlpito em palanque é muito comum o Lado B encarou a  conversa, mais uma vez, pela pauta.

 
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No Centro de Campo Grande, após quase três horas de culto, a avaliação é boa, pelo aparente distanciamento de qualquer candidato, apesar de metade do tempo ser dedicada aos louvores com uma banda eclética no palco, dançarinos, coreografias e muito jogo de luzes para um público de aproximadamente 150 pessoas.

 

Mas ao deixar o aspecto religioso de lado, o púlpito virou palestra para dizer como a política é importante.

Pastor há 8 anos, o teólogo e fisioterapeuta Yuri Breder, de 34, é quem conduz a pregação da noite. Longe do terno e gravata, ele aparece de camiseta e calça jeans, como a maioria dos jovens presentes na noite. Poucos aparentam ter mais de 40 anos na plateia.

Ele inicia dizendo que não vai falar em quem vota e nem abrir espaço para partidos “do lado A ou lado B” com a justificativa “que todo mundo tem liberdade de escolha”, afirmou.

Quase três horas de culto com louvores, coreografias e reflexão sobre política. (Foto: Thailla Torres)Quase três horas de culto com louvores, coreografias e reflexão sobre política. (Foto: Thailla Torres)

Mas em um País tão dividido pelas brigas políticas, o que se espera é um papo que acenda ao menos um alerta sobre candidatos radicais que, em caso de serem eleitos, podem ser devastadores para a nação. No entanto, Yuri é complacente na fala. “Se a pessoa que você conhece vota na pessoa que você mais odeia, deixe-a votar e não passe a odiá-la”, dispara.

O pastor também não entrou em pautas e propostas que tem movimentado discussões eleitorais como o armamento e políticas para minorias, por exemplo. Mas falou da oposição ao aborto, usando o ponto de vista religioso.

Depois, a maioria do tempo ele passou explicando a necessidade de posicionamento político da comunidade. “É uma noite para falar de posturas, da necessidade de um debate racional de ideia, mas para isso todos nós temos que nos dar ao trabalho do estudo”.

De um jeito sútil, Yuri crítica o número de igrejas que crescem apenas com pregadores, como as que priorizam ofertas e mantêm o debate racional de lado. “Com conhecimento e valores cristãos, a igreja tem o dever de se posicionar, eu como o indivíduo tenho o dever de saber política e o direito de ser engajado nela, porque não existe ser apolítico, todos nós temos um lado, todos nós temos uma fé”.

À reportagem, Yuri também explica como o debate em culto pode ajudar a esclarecer sobre a visão que muitos carregam sobre evangélicos na política. “O que chama nossa atenção em épocas eleitorais como os evangélicos são tratados como massa de manobra, diante de pautas e palavras dos candidatos. No entanto, por mais que as igrejas cresçam as realidades sociais não mudam e me preocupa quando vejo a irrelevância social, muitas vezes, da igreja”, diz. “E nós acreditamos que se nos ausentarmos do discurso público, nós deixamos de ser cristãos porque nós deixamos de transformar o lugar onde estamos”.

Ele também acredita que o momento político é turbulento e, por isso, é preciso pensar. “Precisamos sair da gritaria e pensar mais politicamente sobre determinados esses assuntos”.

Apesar de todo discurso, Yuri diz que ainda não escolheu o candidato e admite não acreditar 100% em político. “Eu acredito em político e desconfio de político. Isso porque acredito e desconfio de todo ser humano”, afirma.

Ele menciona mais uma vez a bíblia e destaca a maldade. “A bíblia diz que todo homem foi corrompido pelo pecado, então o homem é mal, existe uma maldade, por isso eu tenho que desconfiar dele”.

Na visão dele, a democracia, os poderes e os discursos políticos devem fazer parte da rotina da sociedade como maneira de exigir que promessas sejam cumpridas. “Apesar da fé, nós estamos relacionado com a música, o cinema, a arte, a cultura, porque somos seres culturais e a igreja deve estar envolvida em todas as áreas. Nesse mundo precisamos de cineastas, de músicos, de cientistas políticos e educadores, por isso falar de política, é exigir melhorias e garantir isso para todos”.

Assim como o pastor, alguns continuam em dúvida e diante do cenário atual, na visão deles, acreditar em político está cada vez mais difícil. “Eu acredito mais em Deus. Mas acreditar no coração humano é difícil. Ainda não escolhi meu candidato porque é difícil ter total confiança”, diz a engenheira Rebeca Azevedo, de 29 anos..

O culto foi ainda mais relevante para o professor Filipe Breder, de 28 anos, que vê a importância de cobrar os políticos. “Eu tenho muita dificuldade em acreditar no papel do político, mas ao meu posicionar, faço pressão para que esse político cumpra com as responsabilidades dele, principalmente com a cidadania e igualdade”.

Já a acadêmica de Direito, Renata Ramos, de 21 anos, saiu da igreja decidida. “Estava em dúvida entre dois, mas a palavra me ajudou a esclarecer umas dúvidas”. E a escolha? “Aquele que sabe ouvir e tem uma solução para o bem comum”.

 


Fonte: Campo Grande News
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